domingo, 18 de março de 2012

Onde as trilhas se divergem


Hoje às nove e meia da manhã fui acordado por minha mãe, aos prantos. Meu cachorro Sansão, de 14 anos morreu.



Minha reação? Levantei, esfreguei os olhos, vesti uma camisa e disse:

- Ok, vamos enterrar. Vou procurar uma pá.

E então, cartesianamente, fiz cada um dos passos mentalmente traçados e me desfiz do corpo. Nenhuma lágrima foi derramada. Justamente o único que eu achei que me faria ser capaz de tal. Ainda tenho esperanças. "A ficha ainda não caiu, dizem". De fato, gosto de acreditar nessa hipótese, pois este cachorro é a coisa que mais importava pra mim.

A ficha quase caiu quando o posicionei em sua sepultura. Lá estava ele, deitado, como se estivesse dormindo e, repentinamente, bateu em mim uma grande esperança de que ele levantaria e sairia a caminhar, resmungando como sempre. Mas não.

Não tive coragem de enterrá-lo por conta disso e tive que cobrí-lo. Seus olhos estavam tão tristes e cansados que tive de pôr um saco para então cobrí-lo de terra. Depois de carregá-lo pela cidade por 5 horas a procura de seu túmulo, finalmente reparei de que ia sair dali de mãos vazias, e que nunca mais o veria, mas ainda nenhuma lágrima.

Então resolvi fazer uma busca por todas as coisas que me lembravam dele, ou todas as coisas que me incentivavam a ser um dono melhor e gostaria de compartilhá-las com vocês, numa tentativa de incitar o questionamento e uma espécie de homenagem à ele.

1) A primeira delas, é um poemas que escrevi ao ingressar no ensino médio, mais ou menos com meus quinze anos (há 4 anos atrás), ao me chocar com uma foto que tirei dele. Infelizmente, apaguei a foto pois não queria vê-lo jamais com aqueles olhos. Ele se chama, para a surpresa de todos, "Olhos".

Que mostram teus olhos
Se não marcas da vida que levastes?

No teu caso, meu amigo
Teus olhos mostram tristeza

Mostram uma vida que foi cheia de expectativas
Cheia de sonhos
Cheia de desejos

Desejos estes que ninguém fez nada para realizar
Você contava (e ainda conta) com as pessoas
Na esperança de que um dia possam lhe ajudar
Mas este dia parece cada vez mais distante

E sua esperança vai minguando
E seus olhos vão caindo
E sua dor vai aumentando
E você então, infeliz suspira, pensante:

"Este é apenas mais um dia.
Quantos mais me restam
Até que eu possa, finalmente, deitar
Para jamais acordar?"

A monotonia destrói seu instinto
A cidade aprisiona sua alma
E você, cada dia que passa
Morre um pouco mais por dentro.

Agora que escrevi isto
Tirei um peso do meu peito
E então aliviado, volto à minha rotina
Esquecendo que este texto não muda
Nem um pouco
Sua situação.

2) A segunda lembrança é uma música. As letras estão no vídeo e se expressam melhor do que eu poderia explicá-las.



Bom, basicamente é isso, esta é minha homenagem. Mas, antes de fechar, gostaria de ressaltar algumas coisas a respeito deste blog:


  • O objetivo do blog não será, de forma alguma, fazer uma espécie de diário dos acontecimentos da minha vida. Este foi um caso único. Não pretendo falar de minha vida pessoal, pois acho que esta não deve interessar a vocês. Por outro lado, não a esconderei; se houverem perguntas, responderei com o maior prazer.
  • Posts serão curtos. Ponto.
  • Posts variados. O blog possui um determinado objetivo, mas isso não quer dizer que todo post será relacionado à ele. Posso -e irei, de vez em quando, compartilhar algum vídeo ou escrever algum texto que fuja ao contexto inicial. Mas alerto logo que provavelmente será sobre música, gastronomia, etiqueta e algo sombrio e estranho que eu chamo de "humor".
  • Sou engraçado, podem acreditar. Ok, talvez não seja muito engraçado, mas pretendo ser mais... descontraído nos posts seguintes.